vozes desnecessárias #10

segunda-feira, 17 de junho de 2013 0 comentários
Isto é uma voz desnecessária.

O senhor pode dar a sua opinião. Pode.
O senhor pode falar da sua experiência. Pode.
O senhor pode achar que o seu trabalho é muito mais exaustivo que o de um professor. Pode.
O senhor pode achar que os professores são egoístas. Pode.
O senhor pode falar da realidade que conhece. Pode.

O que o senhor não pode é falar da realidade que NÃO conhece.
O senhor deve lembrar-se ou saber que ao contrário da sua mãe e padrasto, um casal de professores não está, na sua maioria, perto um do outro, não dividem a mesma casa e não cuidam os dois dos seus filhos. Muitos, vêm-nos de quando a quando.
O senhor deve saber (ou devia) que os tempos mudaram, que as coisas evoluíram e que as aulas não são dadas da mesma forma que eram no seu tempo. Porque os alunos, para além de mais exigentes, têm acesso a tudo e mais alguma coisa, o que torna umas simples aulas expositivas (estas são as que dão MENOS trabalho) em aulas desmotivantes, em "secas" (palavras dos alunos de hoje), e é necessário muito mais para além de uma ou duas horas de trabalho por dia a preparar aulas, a elaborar materiais, a corrigir e a inventar fichas. 
O senhor pode falar do egoísmo dos professores ao prejudicar os alunos numa fase tão importante da vida deles, mas não se deve esquecer do quão são prejudicados esses mesmo alunos com turmas de 30 alunos, com os mega-agrupamentos que obriga as crianças pequenas a fazer viagens absurdas para irem frequentar o que lhes é de direito, a escola. Não se deve esquecer também que perante as medidas que o ME quer aplicar, milhares de professores que este ano estão colocados para o ano estarão no desemprego. Pode falar do egoísmo dos professores, mas não sem pensar no quanto estes "egoístas" serão prejudicados amanhã. 
O senhor pode ser um privilegiado e pode poder colocar o seu filho numa boa escola, com bons professores, perto de casa, no entanto, está esquecido de que há muitos que não têm essa sorte.  
Perante tal discurso espanta-me que não tenha dito que concorda com a hipótese descabida que o senhor ministro da educação apontou como alternativa a esta greve: a de os professores fazerem greve nas férias.
Por fim, quero apenas relembrá-lo de que o mundo, e neste caso, Portugal, não se traduz no seu exemplo de referência (nem de perto, nem de looooonge).






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