uma Páscoa doce.

Foi o que tive no domingo passado... uma Páscoa doce, com um apontamento amargo, para desenjoar da santidade que nos invadiu o espírito. 

Então que a Sagrada Família saiu à rua para dar um pouco de luz a quem nos esperou com um sorriso no olhar e também um pouco de gozo a quem nos esperou com um desprezo no coração. Ao longo do dia senti tantas coisas diferentes que chegou a um ponto em que não conseguia discernir o meu estado de espírito em determinados momentos. Posso fazer um breve apanhado aquilo que os meus olhos viram durante a visita Pascal realizada no domingo. Ora vejamos:

Vi olhos lacrimejados a beijar a cruz com a maior devoção alguma vez vista.

Vi casas despidas. Despidas de luz, despidas de amor, despidas de sentimento.

Vi olhos tristes, como que a reviver, não a ressurreição de alguém, mas sim a morte de um ente querido. 

Vi choros sufocados de mães que perderam os seus filhos e que não viam ali, naquela horam nenhum sinal de esperança, ou então viam.... não consegui perceber bem.

Vi famílias felizes, tão felizes como a minha, o que me fez ter esperança num mundo melhor. 

Vi idosos radiantes por receberem Cristo em sua casa (e a nós também).

Vi pessoas felizes, realmente felizes por me verem. Inclusive crianças, os meus selvagens queridos.

Vi famílias destroçadas.

Vi olhares vazios.

Vi gente má. 

Vi anormais pessoas com aquele ar de "olha-me estes armados em santos" ao qual respondi com aquele ar de "se te fosses f**** ah? sempre fazias melhor figura do que aquela que estás aí a fazer a fingir que acreditas nalguma das coisas que estamos para aqui a dizer... podias estar no café, ou no raio que te parta, não?"

Vi pessoas constrangidas por se encontrarem.

Vi pessoas que acreditam no sentido da Páscoa mas que têm vergonha de o dizer em voz alta.

Vi falsidade.

Vi verdade.

Vi idosos acamados, sem falar, sem olhar, sem ouvir, mas a beijar a cruz com lucidez.

Vi pessoas completamente descrentes, assumidas, a dizer "aleluia aleluia" com ar de "vou vomitar".

Vi uma senhora que me fez lembrar a minha avó com um sorriso no rosto e uma devoção do tamanho do mundo e um senhor que me fez lembrar o meu avô no seu estado menos feliz. Vi o meu coração disparar com estas lembranças.

Vi coisas más, mas vivi muio mais coisas boas.

Foi um dia em bom, Foi uma coisa boa que vai ficar na minha memória para sempre. 

Fiquei só com pena de não ter deixado cair, sem querer, a moca da água benta na tromba de algumas alminhas, mas valeu o pensamento. 

Aleluia aleluia.